2005/09/26

Sobrevivência/Morte

Não deixa de ser curioso que tenha dado ao escrito anterior o título de "sobrevivência". Podia tê-lo alterado, mas prefiro que ele fique a asinalar a minha intenção de relatar o esforço inaudito, sobrehumano que eu fiz para que aquele jornal sobrevivesse.

Havia dias que me fechava no gabinete de que me servia para, deitando-mo no chão e colocando os pés em cima da secretária, sentisse algum alívio da dor que sentia no peito. Da qual não falava a ninguém.

Tinha uma equipa maravilhosa, que confiava em mim e desempenhava o seu papel a contento. Ninguém protestava porque tinha salários em atraso, porque era necessário fazer um forcing até às tantas para fechar o jornal.

A maior parte das pessoas que comigo trabalhou naquele projecto entendia-o como uma espécie de "missão".

A jovem administradora, quando ficava com as contas a zero, não se cansava de me perguntar : "e agora, vamos fazer o quê?"

"Tem calma", era a resposta, mesmo quando sabia que as soluções estavam longe.

Toda a gente sabia quando eu viajava. E...se viajava, havia alguma coisa em vista. O povo ficava à espera e...sempre sabia da minha chegada, porque, na escada de acesso ao primeiro andar do nº.105 da Possidónio da Silva, ficava o cheiro da minha água de colónia - a mesma que ainda hoje uso.

Normalmente, as notícias eram boas. Para eles, bastava um olhar para a minha cara.

Cheguei a ir e voltar, no mesmo dia, à Cidade da Praia. Naquele tempo não era fácil!

Até que um dia percebi que não valia a pena continuar a lutar pela sobrevivência de um projecto que toda a gente queria morto - mesmo aqueles a quem mais interessava. Por isso, o matei. Com as minhas próprias mãos!

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