Já lá vão quase dois meses que não acrescento nada a este blogue. A dificuldade está na falta de tempo que tenho para ir olhando as páginas que fomos escrevendo nos sete anos que durou a aventura. O que era importante reproduzir de memória, está feito. Agora, importa salientar a capacidade de intervenção revelada e o modo como utilizávamos um instrumento poderoso, com era o "África".
É natural que me detenha mais nos textos que eu próprio escrevi - aqueles que assinei, porque os outros já não os consigo identificar.
Durante a maior parte do tempo em que o "África" existiu assinei uma coluna com o título de "Directa". Era ali que eu afirmava de forma clara e sucinta o que pensava sobre certas questões.
Não resisto à reprodução de uma delas, publicada em 21 de Setembro de 1988:
«João Paulo II esteve na África Austral.
Na mesma altura em que o chefe da Igreja Católica viajava por terras de África, um bispo português, o arcebispo de Braga, D. Eurico Dias Nogueira, fazia, no Santuário da Penha, em Guimarães, declarações bizarras.
Servindo-se do púlpito, D. Eurico atirou aos fiéis: " a descolonização foi a página mais negra da História quase milenar de Portugal".
Desconheço se algum dos presentes reagiu.
Também não sei se num santuário as pessoas têm o direito democrático de responder a afirmações tão pesadas como esta.
E mais esta: Em Angola e Moçambique verifica-se a "ausência total de democracia, pela imposição do regime unipartidário, de inspiração marxista-leninista".
D. Eurico foi bispo na Beira (Moçambique) e no Lubango (Angola).
Desconheço se na Beira se portou como um democrata. No Lubango não. Foi um bispo autoritário, rodeado de luxos e amigo dos ricos. O partido único de então garantia-lhe toda a sorte de privilégios - contra os quais nunca ouvi a sua voz levantar-se, embora, na altura, tivesse toda a elegitimidade para o fazer, já que era cidadão de pleno direito, funcionário do estado novo.
A que propósito vem agora falar de Angola e Moçambique no Santuário da Penha?
Porque não fala da exploração da mão de obra infantil que se processa ali mesmo, debaixo dos seus pés?
Será que o papa, depois da sua viagem a África, não pode pôr a funcionar os mecanismos do partido único que governa a Igreja e determinar que fiquem calados os bispos que não se atrevem a falar das realidades pastorais que os rodeiam?
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