2005/07/22

Os Financiamentos

Deixo lá mais para a frente as verdadeiras razões que levaram ao encerramento do semanário"África", que, ao contrário do que a opinião pública cabo-verdiana pensou, não teve nada a ver com Cabo Verde
Tal opinião pública , foi, mais tarde, em Julho de 91, manobrada sem qualquer escrúpulo pelo gabinete do primeiro-ministro Carlos Veiga, com uma única intenção: destruir Pedro Pires, um homem que quando saiu do poder teve que ir para casa da mãe porque não tinha sequer casa própria, um homem que pertencia ao punhado de verdadeiros heróis que tinham conseguido a Independência para o país e feito dele uma terra viável para todos os cabo-verdianos.
Não quero parecer pretencioso, mas penso que havia igualmente a intenção de me "abater" como jornalista. Confesso que, de certo modo, isso foi conseguido, já que até homens como Germano de Almeida se atreveram a , de longe, lançar-me pedras, de forma mais ou menos leviana, sem cuidarem de saber o outro lado. E até o correspondente do "Público" na Praia, com a conivência óbvia da Redacção em Lisboa, se permitiu fazer notícia sem tentar, sequer, contactar-me.
Apenas um único jornalista o tentou fazer para ouvir a minha opinião sobre a matéria: foi alguém da RTP 2, já em Novembro de 1992, no dia a seguir ao da minha alta do Hospital, depois de ter feito um bypass triplo. Claro que não estava em condições de respoder a coisa nenhuma.
A questão do chamado financiamento do África que levou Pedro Pires, Júlio de Carvalho e Carlos Andrade a Tribunal foi usada como arma política para desacreditar o PAICV e alguns dos seus principais dirigentes.
O MPD, quando chegou ao poder pôde verificar que não havia provas nenhumas das calúnias que tinha lançado para a opinião pública através da cobertura que dava a panfletos anónimos em que falava de corrupção, contas no estrangeiro, etc.
Já andei muito caminho, já vi muita coisa, mas dirigentes como os que Cabo Verde teve desde 1975 a 1991 é difícil encontrar. Um único "pecado" lhes deve ser atribuído: a falta de habilidade para libertarem a informação, embora ainda o tenham tentado.
E, se não conseguiram, tal também se ficou a dever à falta de capacidade, de profissionalismo, genica e vontade da grande maioria dos profissionais da informação cabo-verdiana de então. Desse grupo, de semi-analfabetos, fazia parte Daniel Santos, que também tentou arranjar emprego no "África", em Lisboa, o homem que acabou a assinar o que, seguramente, Eugénio Inocêncio escrevia, já que, sendo conselheiro de Carlos Veiga, teve acesso aos documentos que Pedro Pires deixou no Gabinete.
E que documentos eram esses? Propostas de projecto para continuar com um jornal que fazia falta aos cinco países de Língua Oficial Portuguesa, numa conjuntura em que se lutava contra o apartheid, pela Independência da Namíbia e pela retirada das tropas cubanas.
Cabo Verde, através dos seus mais altos dirigentes políticos, percebeu a importância de tal órgão de comunicação, escrito por gente capaz, com uma estratégia inteligente, um veículo eficaz para contrapôr as razões dos africanos ao matraquear interrupto de todos os meios de comunicação social do chamado Ocidente e também do Oriente.
Ao contrário daquilo que David Hofer Almada afirmava no "Voz Di Povo", que ele como ministro da informação nunca conseguiu valorizar, nunca no jornal "África", alguém foi obrigado ou, sequer sugestionado, a escrever contra ou a favor de quem quer que fosse. E a única pessoa de Cabo Verde que encomendou um texto à redacção do "África" foi exactamente o dr. Hopfer Almada. Queria um texto sobre um livro de poemas que, na altura tinha escrito e que, em resumo, era uma saudação ao facto de ele próprio ter nascido.
Como director do jornal entreguei a matéria ao responsável pela área da cultura, que entendeu não merecer o livro qualquer referência. Foi essa a resposta que trasnmiti a Jorge Alfama, que havia servido de intermediário entre o ministro Hopfer Almada e eu própio.
Curiosameente, mais tarde, o Diário de Notícias publicou um texto da prof. Lúcia Lepeki, com grandes encómios à poesia de Almada (Hopfer).
Os textos que se seguiram à descoberta do "dossier África" são verdadeiramente assombrosos e não vale a pena sequer recordá-los, porque lhes falta, primeiro, a minha opinião e depois uma análise descomprometida e inteligente à estratégia que o tal dossier, a que foram subtraídos documentos, continha. Para compensar a falta dos tais documentos, faziam-se análises mais ou menos disparatadas aos chamados responsáveis do jornal: Rola da Silva, por exemplo, é tido como "um crítico da direita" que tem o prazer de "criticar os defeitos da esquerda". O "grande mentor espiritual do jornal, o único a quem o director (eu) pedia conselhos .E esta, oh! Rola?
Que me desculpe o Rola da Silva, meu querido amigo, e todos os outros, mas o "África", desde o princípio, mesmo como "África Jornal", com Xavier de Figueiredo como director, foi estratégia exclusivamente minha É verdade que reuni uma equipa maravilhosa, de que estou muito orgulhoso, mas, em matéria de estratégia quem mandava era eu, apesar de o Daniel Santos me considerar uma "pessoa pouco autoritária". Ainda bem - acrescento eu.
João Van-Dunem, considerado um "profundo conhecedor" dos bastidores da política angolana. "Não costuma assinar os seus artigos, nem está ao corrente de tudo o que se passa no "África" - dizia-se naquele Verão de 91, no Voz Di Povo. Lindo, João.
Carlos Veiga e os seus conselheiros tiveram nas mãos um verdadeiro manual para desenvolverem uma política de informação. E o que fizeram? deitaram-na à rua e optaram por seguir o exemplo de todos os dirigentes africanos, que pagam fortunas pela publicação de textos encumiásticos, entrevistas e coisas dessas a esmo, em revistas sem prestígio, mas que são exibidas apenas nas salas de espera dos ministros, porque nem os consultórios médicos as querem.
Provavelmente, Pedro Pires ao deixar os tais documentos no gabinete do primeiro-ministro terá pensado que o seu sucessor seria um homem capaz de perceber a importância daquele projecto. Nunca lhe perguntei se foi por isso, mas se foi, é claro que se enganou. Carlos Veiga, como político, é um rolo compressor e só abre caminho para os seus amigos e familiares.
E o mais engraçado é que, o Daniel Santos/Eugénio Inocêncio/Carlos Veiga, ao fazerem as contas do tal financiamento não perceberam que se enganaram, mas já é tarde para os ensinar a fazer contas.
Precisam, todavia, de ficar a saber que havia um compromisso entre a direcção do "África" e um núcleo duro do PAICV , que aprovava o plano, no sentido de uma parte importante daquele financiamento vir a ser reposto.
Para tal, bastava que os outro quatro países africanos de língua oficial portuguesa percebessem o alcance do projecto. A verdade é que não perceberam, mas os resultados da acção dos seus políticos ao longo dos últimos trinta anos também não são famosos. Parece que, afinal, Cabo Verde merecia o destaque o o "África" lhe dava...

2 comentários:

Anónimo disse...

Esse Hopfer Almada pretende agora ser candidato do PAICV ás eleições presidenciais.

Mas o homem não tem condições, já que foi um dos testas de ferro de investidores portugueses na privatização da CVtelecom onde detém mais de cinco mil acçôes. Como não tinha dinheiro para comprar as acções, uma operadora de telecomuniucações interessada na privatização serviu-lhe de avalista.

O Dr Hopfer, que é um homem rico, servia melhor como candidato do MPD e não de um partido de esquerda em teoria.

Anónimo disse...

Gostaria que o Dr Leston Bandeira publicasse no Jornal "A Semana" de Cabo Verde" um artigo sobre as relações que o então querido "ornal Africa" manteve com as autoridades caboverdianas.