2005/08/14

ANOP - A Extinção Anunciada

Em 1983 o fantasma da extinção da ANOP voltou à carga com uma intensidade inusitada. Era primeiro-ministro Pinto Balsemão e secretário de estado da comunicação social, José Alfaia. A pressão sobre o pessoal da ANOP era enorme.
Xavier de Figueiredo, que, entretanto, seguindo-me as pisadas, havia sido expulso de Moçambique, onde era chefe da delegação da ANOP, num processo igualmente pouco claro mas que definia os métodos de um Samora Machel ainda demasiado radical, não resistiu e saiu com uma indemnização ridícula, para quem tinha dado tanto de si à instituição.
Começou, por isso, a pressionar-me com a urgência de se arrancar com o nosso jornal.
Aquele não era ainda o "meu tempo". Por um lado, queria acabar o contrato que me ligava à ANOP na Cidade da Praia, por outro, pressentia que, do ponto de vista político, não só para os africanos, mas também para os portugueses, o momento ainda não havia chegado.
Trocámos alguma correspondência: ideias para lá, ideias para cá, ficou, mais ou menos assente, que pensaríamos, com calma, no tal lançamento, lá mais para a frente. O meu contrato acabava no final do Verão de 1984.
Em Janeiro desse ano sou surpreendido com uma notícia publicada nos jornais portugueses sobre o "próximo" aparecimento de um jornal, dirigido por Xavier de Figueiredo e especialmente dedicado a África.
A ANOP fazia agora pressão sobre as delegações, não pagando salários e o resto das despesas. Chegou a dever-me mais de três mil contos, sobretudo porque a todas as propostas que fiz para instalar a delegação e o delegado, Valy Mamede respondia com o silêncio.
Quando lhe mandei um projecto, já pronto, para edificar as instalações da Agência, casa para o delegado e um pequeno auditório, onde poderiam ser dadas as conferências de imprensa- já que na Praia não havia nada que servisse tal objectivo, Valy Mamede respondeu que eu, além de "um perigoso comunista", porque o obrigara a assinar um contrato onde estavam previstas todas as eventualidades, era "maluco".
O projecto que, de resto, tinha sido ideia de João Galamba e era da autoria de um arquitecto cabo-verdiano, amigo dele, custava naquela altura 600 contos cabo-verdianos, o que queria dizer 1.200 portugueses. O Estado de Cabo Verde dava o terreno, situado, junto à embaixada de Portugal e ao espaço reservado, naquela altura, para o palácio da Assembleia Nacional, que ainda haveria de ser construído pelos chineses.
Como nenhnuma das minhas propostas foi aceite e a alternativa contratual a casa própria era o pagamento de Hotel, para mim e para a família, era isso que a ANOP pagava - e, muitas vezes, não pagava.
Como o processo de extinção da ANOP se revelasse complicado, Balsemão e Alfaia recorreram a outro estratagema: fundaram uma outra agência, para onde se transferiu a equipa de José Manuel Barroso, com Wilton da Fonseca e Companhia - a Notícias de Portugal, com o estatuto de cooperativa.
A ANOP ia ficando cada vez mais em perigo e, a certa altura, lá longe, tive a sensação de que haveria dois grupos: um que lutava contra o fim da e outro que já se tinha passado para o outro lado. O Conselho de Administração, na prática, funcionava como comissão liquidatária
Para mim, a ANOP podia ser um grande projecto de comunicação social português, desde que soubesse aproveitar o grande potencial que se abria em África, afinal o único espaço que estava em aberto à disputa de uma agência que não se integrasse na grande rede internacional dominada pelos americanos e ingleses. É que ao espaço africano poderia juntar-se um outro de língua portuguesa - o Brasil
E Portugal tinha condições especiais para aproveitar essa abertura, mas os nossos governantes nunca primaram pela inteligência, sobretudo na análise das condições externas. Vivem sempre da pequena intriga, dos pequenos interesses e uma ANOP forte, com um estatuto de empresa pública, não servia Pinto Balsemão.
Antes que o seu consulado - um dos mais imcompetentes da governação portuguesa - acabasse por cair seguindo "de vitória em vitória até à derrota final", como Marcelo Rebelo de Sousa escreveu na altura, foram criadas as condições objectivas para a extinção da ANOP.
Esta extinção era, de resto, defendida e quase exigida pelas grandes agências americanas, a UPI e a AP. Falaremos disso mais adiante.

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