2005/08/09
ANOP
Terminado o meu contrato com o governo da Guiné Bissau como professor-cooperante voltei para Lagos, para a Escola Secundária, onde ainda vigorava um sistema de governação herdeiro dos tempos ante-25 de Abril. Eu divirtia-me, chamando ao presidente do Conselho Directivo sr. director e recusando-me fazer aquelas tarefas que não cabiam aos professores e que, com o tempo foram integradas nas suas obrigações ( eu acho que um dia ainda lhe enfiam uma vassora e enquanto dão aulas, preenchem pautas, escrevem aos encarregados de educação e não sei que mais, varrem as escolas. Esperemos).Naquele tempo, eu, a cada solicitação que excluísse aulas, respondia sempre da mesma maneira : "sou professor de História, se tiver uma aulita para dar, aqui estou. Essa coisa de papelada não é comigo..."Lembrava-me dos tempos da tropa em que também estavam sempre a ver se me punham a fazer coisas idiotas - até um jornal me pediram para fazer...Eu dizia sempre: "meu capitão"( ou o que quer que fosse) : " sou atirador, especial, se tiver uma guerra para mim, aqui estou, o resto não é comigo. Um dia, um deles evocou os regulamentos e obrigou-me a tomar conta, burocraticamente, do material de guerra. Só quando recebeu um rádio cifrado do QG a ameaçá-lo de prisão percebeu que os papéis estavam lá todos, mas com um carimbo "arquive-se".Mas, então, estava eu em Lagos, quando, depois de ter escrito ao meu querido amigo Rui Pimenta, ele me convidou para um almoço com o António Ramos, naquela altura membro da administração da ANOP.Durante o repasto, o António,um homem generoso, entusiasta, ficou "fascinado" ( a palavra foi dele) com a minha perspectiva e conhecimentos sobre África e ali mesmo me convidou para entrar nos quadros da Agência para integrar uma secção especializada em África, que ele queria muito criar.Estávamos no final do ano lectivo de 1978/79. Foi a minha última experiência como professor e de vez em quando lembro com saudade o convívio com a juventude.Em Julho desse ano assinei com a ANOP (Rua Júlio de Andrade, 5, Lisboa - este pormenor é importante para a estória) um contrato que me ligava à agência, não sem antes ter que ultrapassar alguns obstáculos, ainda os resquícios de um curriculum político controverso. Houve mesmo um dos administradores para quem eu "não tinha ar de jornalista". Que ar tinha eu? - perguntei.Não obtive resposta. Já uma vez em Bolonha, depois de não ter conseguidolugar em um único hotel ou pensão, me interroguei sobre o mau "ar".De qualquer forma , tinha voltado à minha profissão e o Rui Pimenta, que era o chefe da delegação de Faro, onde fiquei como forma de ultrapassar as tais dificuldades, foi um verdadeiro mestre na minha integração nos métodos de trabalho da agência, além de um amigo solidário, compreensivo e dedicado. Para quem vinha sobretudo da Rádio, com algumas incursões pelos jornais, e fazia do improviso a sua grande arma, entrar na síntese obrigatória do método das agências não se afigurava fácil, mas, rapidamente, com a ajuda do Rui, lá me integrei.Tanto assim que, quando o Rui Pimenta foi para Lisboa, como adjunto do ministro da informação, major Figueiredo, no governo Pintasilgo, lá fiquei sózinho.Um dia, o Helder Guerra foi expulso da Madeira pelo Alberto João Jardim e o José Manuel Barroso, recuperando as escaramuças da minha admissão, lembrou-se de fazer de mim o segundo homem de Helder Guerra, trasnferindo-o para Faro.Perguntei, com toda a naturalidade, porque não o contrário e, quando o Helder chegou, depois de o integrar na sociedade local, resolvi rumar Lisboa. Tinha à minha espera uma outra guerra. Para começar, tive que lembrar a JM Barroso que o meu contrarto era com a ANOP, na Rua Júlio de Andrade, 5, em Lisboa e não na Tenente Valadim, em Faro.
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