Ao mesmo tempo, em Lisboa, Xavier de Figueiredo, servindo-se da entrevista com Rafael Barbosa publicou um texto que retratava completamente a situação na Guiné Bissau. Foi o Expresso,então dirigido pelo Augusto de Carvalho, que urdiu um truque, eticamente reprovável: escreveu ele próprio uma introdução que assinou e publicou a seguir o texto, que não estava assinado.
Em Bissau, foi a gota de água. Vítor Saúde Maria - o ministro que roubava as ajudas de custo dos funcionários que o acompanhavam à Assembleia Geral da ONU - decidiu que aquele texto só poderia ter sido escrito por mim e, na reunião do Conselho da Revolução, onde Nino Vieira pouco dizia e nada mandava, propôs a minha expulsão, que foi aceite.
Fui chamado ao ministério dos negócios estrangeiros, onde Leonel Vieira, secretário geral, me comunicou a decisão do Conselho da Revolução "que não tinha apreciado particularmente o meu trabalho e o considerava destabilizador..." Eram 20 de Março de 1981, tinham passado 40 dias desde que chegara a Bissau pela segunda vez.
A ordem era para seguir no próximo avião - 20 horas depois.
Foi uma noite sem sono. A ANOP tinha a delegação na Avenida Amilcar Cabral, do lado oposto ao Cinema UDIB ( que, na verdade era um clube desportivo), perto da Praça dos Heróis, chamada no tempo colonial de Praça do Império.
Toda a noite houve romaria. Toda a gente queria saber o que tinha eu realmente feito. Eu tinha a minha própria explicação, mas preferia ouvir as especulações - algumas delas bem fantasiosas.
Na manhã seguinte lá fui para o aeroporto, onde não me queriam deixar sair, porque não tinha visto de saída... Há coisas que só acontecem em certos sítios.
Quando cheguei a Lisboa, tinha à saída do avião o JMBarroso e o Xavier de Figueiredo, que me pediam por gestos para não falar (havia alguns colegas das rádios e dos jornais à minha espera).Lembro-me de ter dito que tudo aquilo não passaria, concerteza de uym mal-entendido e seria resolvido em breve.
Qual mal-entendido? Saúde Maria, em privado, terá dito às autoridades diplomáticas portuguesas que a acção foi um erro, mas a mim nunca ninguém disse nada. Por isso, quando, mais tarde, me convidaram para ir à Guiné Bissau, eu exigi, primeiro, desculpas públicas. Decidiram-se por um truque mais ou menos baixo e eu não voltei a Bissau.
Devo, contudo, afirmar que do povo guineense que encontrei nos Bijagós e no interior do país, guardo as mais gratas recordações.
2005/08/09
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