Feita a pausa das férias e do entusiasmo próprio do início de um novo projecto com velhos companheiros - o "Africandar.blogspot.com", voltemos então à história do "África" que eu prometi.
Tal como já disse, o Xavier de Figueiredo resolveu arrancar com o projecto - um projectinho, à sua maneira - que me desculpe o Xavier ( ele sabe que eu não digo isto por mal).
Pior ainda, na hora sentiu que precisava da minha ajuda e telefonou-me para Cabo Verde. Estávamos no príncipio de 1984. Precisei de algum tempo para reflectir, mas decidi ajudar, mesmo lá longe. Afinal era o meu projecto, sendo também dele, claro.
O primeiro número do "África Jornal" tem algumas coisas interessantes. Por exemplo, um texto do Renato Cardoso, assinado com um pseudónimo que ele utilizava de vez em quando (Gomes Vital), e onde era explicada de forma clara a estratégia de política externa dos chamados Cinco Países de Língua Oficial Portuguesa, a propósito de uma proposta da diplomacia portuguesa feita por Jaime Gama: o chamado diálogo tri-continental.
Nesse primeiro número do "África Jornal" assinei um texto de opinião sobre os direitos humanos em Cabo Verde, cujo primeiro parágrafo cito:" Cabo Verde inverteu os argumentos tradicionais em relação às liberdades públicas em África. Enquanto a maioria dos teóricos e alguns dos políticos que falam sobre África tentam provar que as liberdades públicas nos países africanos são um risco para a unidade nacional, um luxo dos países ricos, o poder cabo-verdiano desenvolve a tese de que o exercício de uma certa legalidade, a existência de garantias para os cidadãos são fundamento da unidade nacional, garantia de um processo de desenvolvimento".
O jornal tem a data de O1.02.84
Todavia, no conjunto, o jornal estava desiquilibrado.
Começou por ser mensal, sem dia certo de saída, o que me irritava. Um jornal não pode ser um calhário. Deve assumir um compromisso com os seus leitores e cumpri-lo.
Grave: não tinha apoios financeiros, não tinha distribuição garantida e apareceu como o parente pobre a pedir um lugarzito nas bancas, cheias de jornais gordos que empurravam todos os outros para o lado.
De qualquer forma, o Xavier foi publicando o "África Jornal", cujas primeiras instalações foram numa sala de um prédio em Carnaxide, perto do Hospital de Santa Cruz. Uma sala virada a Norte e com uma parede de terra frente às janelas, por onde, obviamente, não entrava o Sol.
Nas minhas férias desse ano conversámos e acertámos que eu continuaria na ANOP, mesmo depois de voltar de Cabo Verde. Também ficou claro que eu não apreciava particularmente um sócio que ele tinha incluído no projecto. Por causa das suas ligações instituicionais de caracter partidário.
Eu tinha posições políticas claras, determinadas por opções de carácter ideológio e filosófico, mas era independente. Toda a gente ligada ao meio sabia que eu tinha sido dirigente do MPLA, que tinha rompido com a clique entretanto chegada ao poder em Angola, mas também se sabia que eu era anti-Savimbista, o que, na prática, se confundia com o ser anti-Unita , porque a Unita sem Savimbi não existia.
Também era claro para mim que a guerra em Angola não tinha apenas um culpado, mas ela era, para Savimbi, a estratégia de tomada do poder. Não tinha outra.
1 comentário:
Senhor LB
Sou um dos seus admiradores! Ja alguns anos atras pedi para me ilucidar um pouco sobre o que sabe da morte de Renato Cardoso, pois estou ainda na pesquisa, para terminar um romance sobre a morte daquele saudoso politico e mais!
Que pode me dizer!
Gosto muito do que o senhor escreve, critico e de um modo independente!
Daqui da emigracao!
Domingos Barbosa da Silva
Ecodasilhas.com é a minha Pagina!
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