2005/09/02

O 14º Número do "África Jornal"

O nº13 do "África Jornal" tinha uma reportagem de um visita de estado de Pedro Pires, então primeiro-ministro de Cabo Verde, a Espanha. Acompanhámos a par e passo a viagem. A intenção correspondia a uma nova estratégia: queríamos que os dirigentes africanos dos Cinco sentissem que também podiam ter um acompanhamento por parte da comunicação social.
Lembro-me bem que Felipe Gonzalez fez uma conferência de imprensa conjunta com Pedro Pires e se surpreendeu com o tipo de perguntas que lhe foram feitas pela nossa equipa (eu e o João Van Dunem). Mas percebeu e reagiu com simpatia.
No regresso de Espanha tinha o Xavier decidido a abandonar o projecto.
O nº14, de 3 de Março de 1985, já tem no cabeçalho o meu nome como director e o de João Van Dunem, como chefe de redacção.
Vale a pena contar alguns dos factos que medeiam o meu regresso de Cabo Verde em Setembro de 1984, no final do meu contrato como correspondente na Cidade da Praia, onde fui substituído pelo Rui Parracho, que, mais tarde, se confessou surpreendido com a minha recepção.
Na ANOP, então dirigida pelo Jaime Antunes, havia a ideia de que eu era "um fulano irrascível", muito ligado, por razões sentimentais, aos africanos. Afinal, não era nada "intratável"e o Rui foi tratado como VIP e nasceu, de resto, entre nós, uma forte amizade.
Quando cheguei a Lisboa estava convencido de que a minha experiência em África e a rede de contactos que, entretanto, tinha criado, poderiam ser úteis à agência. Fazia todo sentido integrar a secção de África e, sobretudo, não ficar amarrado a uma secretária, a traduzir os telexe's das agências internacionais.
Recomecei a trabalhar em Outubro e desesperava-me a tentativa de me esquecerem. O director, Jaime Antunes, que tinha montado na ANOP uma secção de jornalismo económico, a primeira, que depois transferiu para o seu "Semanário Económico" em peso, nunca quis falar comigo.
Um dia encontrámo-nos num corredor e eu disse-lhe que era urgente falarmos. Encostou um pé à parede, em atitude paciente: "Diz!..."
Virei-lhe as costas e, nessa mesma tarde, aceitei a porcaria de uma indemnização que a ANOP estava dar a quem quisesse sair.
Todos os meus colegas ficaram admirados - em Portugal ninguém se demite.
No dia seguinte estava em Carnachide para dar alguma força ao "África Jornal". Na prática, estava desempregado, porque o jornal não podia pagar-me salário. Desempregado mas cheio de força para o "meu projecto".E curiosidade acerca da ANOP. Jaime Antunes era o submarino, foi ele que acabou com a agência, juntando-a à NP.
A posição dele percebi-a na altura. Houve outras, todavia, que só mais tarde entendi, como por exemplo as dos membros das direcções técnica, financeira e comercial.

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