Pelo que atrás fica narrado está claro o cenário: o jornal "África" funcionava numa aflição só. A mim cabia-me a responsabilidade de o dirigir, pagá-lo e - já agora - lê-lo.
As receitas eram provenientes da publicidade, mas as agências não arriscavam no " África". Houve até um caso com uma das grandes agências da altura e que geria a conta de publicidade de uma empresa que nos apoiava com alguma consistência. Pura e simplesmente, a agência não nos pagava.
Mandei para contencioso, tribunal, essas coisas. O pessoal chamou-me louco, mas eles pagaram para não perderem a confiança do mercado. É verdade que nunca mais nos mandaram um anúncio. Nesse domínio, a conspiração também era aberta.
Para além da publicidade que íamos conseguindo com o estratagema dos cadernos especiais sobre isto, sobre aquilo - uma maneira de nos enquadrarmos na onda medíocre dos gestores nacionais, havia um acordo com Cabo Verde, já descrito e um outro, muito periclitante, que funcionava umas vezes e outras não, com Angola.
Um parêntesis para voltar a dizer a Carlos Veiga e aos seus brilhantes conselheiros que os apoios cabo-verdianos não passaram de uma gota de água.
Os verdadeiros apoios vinham de Angola, mas sempre de modo a que não nos deixavam respirar. Eram sempre para pagar o passivo. Em sete anos de actividade, o "África" nunca teve a mínima possibilidade de investir, de planear o que quer que fosse.
Uma pequena estória a este propósito: a certa altura eu precisava de falar urgentemente com uma das pessoas que geria este apoio e mandei-lhe uma mensagem por uma amigia que foi a Luanda. Resposta: "não me importo de falar com o teu amigo, se dormires comigo..."
Consegui, por causa desta canalhice sem nome, mudar o interlocutor, mas as respostas eram sempre pouco claras, ou não existiam.
Finalmente, em 1991 depois de longas conversas com alguns responsáveis angolanos, foi-me "imposta" a ideia de transformar o "África" numa revista especialmente dirigida à comunidade angolana em Portugal.
Resisti à ideia, mas percebi a intenção. Desse modo anulavam o carácter marcadamente independente do Jornal e sujeitavam-nos a uma dependência clara.
Todavia, em desespero de causa( havia as pessoas...) acabei por aceitar a ideia, mas, mesmo assim, os tais apoios seguros nunca chegaram. Até que, em Maio daquele ano, telefonei para Luanda, dizendo: ou se concretizavam os projectos, ou eu fechava o jornal.
Do lado de lá voltaram as promessas, mas no dia 31 de Maio o jornal fechou mesmo.
Antes disso liquidei todas as dívidas existentes. Apenas fiquei a dever alguns impostos ao Estado, na esperança de que o trespasse das instalações permitisse liquidá-los.
Mais uma vez fui apelidado de louco. Ninguém fazia isso. As empresas, quando fechavam pagavam ao Estado e ficavam a dever aos fornecedores.
Ainda me lembro do diálogo com o dr. Rudolfo Crespo, então gestor da Imprinter, a Gráfica onde o "África " era impresso.
"Oh! Leston, você está a dizer-me que vem fazer contas para fechar o jornal?... Nunca na minha vida tal aconteceu...Sempre que alguém fecha um jornal, esquece-se de nos pagar..."
O resultado foi que, de repente, corri o risco de ficar sem casa e aquelas coisas todas que fazem parte da nossa vida e que sempre custam a ganhar a quem tem de trabalhar.
Instalou-se a crise do Cavaco e as instalações, cujo trespasse valia na altura 10 mil contos, acabaram por ser passadas a troco do pagamento das dívidas ao Estado e à Segurança Social.
E agora que a estória dos financiamentos está contada e já se sabem as razões por que fechou o África, vou abri espaço para falar das coisas que fizémos, das pessoas que por lá passaram. Vão ver que há razões de sobra para ter saudades daquele projecto.
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